Jogos teatrais permitem que as crianças aprendam e desenvolvam a linguagem corporal
Ana Rita Martins (ana.martins@abril.com.br)
A capacidade de fazer de conta é uma das características mais relevantes da infância, pois está diretamente ligada ao desenvolvimento intelectual e físico dos pequenos. Quando imagina que é um policial à procura de um bandido, a criança elabora respostas às distintas situações que surgem e, ao pôr em prática seu personagem, estabelece movimentos que ampliam a consciência e a expressão corporais. Por isso, os jogos teatrais são uma ótima maneira de desenvolver a relação da criança com o próprio corpo, com o do outro e com o espaço. Eles são jogos de construção em que a consciência do "como se" é trabalhada de forma gradativa em direção à articulação da linguagem artística teatral. "No processo de construção dessa linguagem, a criança estabelece com seus pares uma relação de trabalho, combinando a imaginação dramática com a prática e a consciência na observação das regras", explica Ingrid Dormien, que leciona Teatro Aplicado à Educação na Universidade de São Paulo (USP) e é coordenadora de projetos da Escola de Educadores.
Descobrindo novas possibilidades corporais
O jogo teatral gira em torno de três elementos: onde se passa a cena, quem faz parte dela e qual ação se desenvolve. O professor deve dividir a turma em grupos e propor que cada um decida o que apresentar à plateia - sem o uso de falas nem de objetos cênicos. Exemplo: se escolhem explorar o fundo do mar, as crianças têm de interagir com criaturas e plantas marinhas imaginárias, deixando claros os três elementos básicos.
Ingrid diz que a intervenção docente pode e deve ocorrer durante a cena. "Se o professor perceber que os gestos não são muito claros, pode instruir os pequenos a repeti-los em câmera lenta. Os jogos teatrais abrem possibilidades infinitas de trabalhar a expressividade corporal", afirma. Durante a ação, deve-se atentar também o uso do espaço e de que forma se dá a interação.
Com base no que foi observado, é necessário fazer propostas que representem desafios e incentivem todos a buscar novas possibilidades de expressão. Se um grupo escolheu um espaço pequeno e interagiu pouco, por exemplo, no jogo seguinte o professor pode estabelecer que, independentemente da situação, os objetos utilizados em cena terão de passar pela mão de todos e a área precisa ser ampla.
Dando os primeiros passos na linguagem teatral
O CORPO E A MENTE As crianças precisam demonstrar onde estão, quem são e o que estão fazendo sem falar nada
Os próprios jogos apresentam três elementos básicos da linguagem teatral, já que onde a cena se passa nada mais é do que o cenário, quem a desenvolve são os personagens e o que representa a ação dramática. Só quando as crianças aprendem a construir de maneira coletiva esses elementos e os colocam em prática é que eles devem ser apresentados formalmente. Para enriquecer o repertório, é fundamental a apreciação de peças teatrais e uma reflexão sobre elas, assim como das cenas feitas em sala.
Cristina Aparecida Rastelli de Brito, professora de Educação Infantil na Creche Lar Jane Suzana, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, sabe o valor das rodas de conversa logo após as encenações. Na roda, ela lança perguntas para avaliar se a plateia conseguiu perceber onde se passava a ação, quem fazia parte dela e o que foi apresentado. Esses dados são úteis para verificar as dificuldades e os progressos feitos pelo grupo. "Se as crianças, por exemplo, acharam que o mar, ambiente em que o esquete se passou, era o espaço sideral, eu pergunto por que e, com base nisso, discutimos os movimentos que levaram a tais conclusões. Com isso, o grupo fica mais consciente de como suas opções comunicativas são interpretadas", conta.
Vale frisar que o propósito do trabalho com os jogos teatrais não é julgar o valor artístico das atuações. O que vale é perceber como cada um busca soluções diante dos desafios e expande suas possibilidades de comunicação via linguagem corporal. Com a prática e observando os colegas, todos aprendem a usar o corpo de forma mais consciente e criativa.
Reportagem sugerida por uma leitora: Leila Pauli Antes, Joinville, SC
http://revistaescola.abril.com.br/
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